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Mensagem  Admin Dom 2 Out - 23:47

por Marcelo Soares, do blog E Você Com Isso?, da MTV
COLABORAÇÃO PARA A SUPERINTERESSANTE

Em ano de eleição, todo político quer ser fofo com o eleitor com a ajuda de seus marqueteiros. E é exatamente aí que a jaula dos micos é aberta e a chave é solenemente jogada fora. O ano que passou não foi diferente.

Muito brilho, poucas chances
Na eleição mais acirrada desde 1989, o candidato que mais brilhou nos debates foi… o que não tinha chance nenhuma de ganhar. Plínio de Arruda Sampaio (PSOL), que teve menos de 1% dos votos, foi o único que parecia dizer o que pensava, num contraste grande com os micos insossos e ensaiados de Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB).

Governador e sol nascendo quadrado
Pela primeira vez no Brasil, um governador foi pra cadeia: José Roberto Arruda (ex-DEM-DF), por vídeos que mostravam corrupção em seu governo. Pela primeira vez, também, o Supremo Tribunal Federal condenou um deputado em exercício do poder, Zé Gerardo (PMDB-CE) a dois anos de detenção, mas uma multa de 50 salários mínimos resolveu. Claro que foi mico para suas excelências. Para o eleitor, foi genial.

Trololó X Tergiversa

Qual é a diferença entre a Dilma e o Serra? Ela faz trololó e ele tergiversa. Apesar do recorde de 9 debates, houve poucas propostas e muita enrolação. As regras eram engessadas pelas assessorias dos partidos, permitindo que uma hipotética pergunta sobre salada de frutas fosse respondida com comentários sobre fibras óticas. Pela primeira vez, a Justiça Eleitoral exigiu a apresentação de um programa de governo no início da campanha. Dilma só apresentou 13 pontos na última semana do segundo turno. Serra deu a jornalistas um calhamaço de mais de 200 páginas só no último dia.

Religião e política é mais perigoso que bebida com direção
No segundo turno, o debate foi tão focado em questões de fé que Dilma e Serra pareciam concorrer à presidência do Vaticano. Pra agradar eleitores conservadores, Dilma e Serra disseram ser contra o aborto. Antes, Dilma dizia ser uma questão de saúde pública; Serra, quando ministro da Saúde, regulamentou alguns casos. Eles também tergiversaram e trololaram sobre casamento de homossexuais, o que levou líderes de movimentos gays a divulgar uma carta aberta cobrando respeito. Tá certo: misturar religião com política é mais perigoso que misturar bebida com direção.

Ficha Limpa a contragosto
O eleitor pressionou e o Congresso aprovou a lei Ficha Limpa rapidinho. Meio que a contragosto: na hora de votar a lei, em 5 de maio, vários deputados tentaram escapar. Ficou feio, e alguns ausentes de ficha colorida pegaram o microfone pra sugerir “que conste dos autos” que apoiavam mesmo sem ter votado. Ao decidir se valia neste ano, porém, o Supremo Tribunal Federal enrolou e quase deixou passar. Destaque para a exaltação do ministro Gilmar Mendes.

Bolinha de papel X Rojas
O candidato José Serra foi atingido por objetos enquanto fazia campanha no Rio, em outubro. Resolveu fazer uma tomografia. Segundo imagens do SBT, um dos objetos era uma bolinha de papel. Micão, certo? Virou até game. Mas a bola, de papel ou não, não parou do lado dele. O presidente Lula criticou Serra pelo papelão da bolinha, e comparou-o com o goleiro Rojas, que exagerou um ataque em 1990. O mico seria só do Serra se esse tipo de declaração não servisse pra exaltar militantes mais candidatistas que os candidatos.

1,3 milhão de votos
Você sabe o que faz um deputado federal? Se você foi um dos 1,3 milhão de eleitores que mandaram o palhaço Tiririca para Brasília, aguarde até a posse que ele te conta. A menos que isso seja promessa de político. Além da votação, outra coisa que deixou Tiririca famoso foi a possibilidade de ele ser analfabeto. Depois de enrolar, Tiririca acabou topando fazer um teste na Justiça Eleitoral, que determinou que sim, ele sabia ler de carreirinha, ainda que devagar.

E os documentos públicos?

O governo tentou esconder arquivos sobre o processo que Dilma Rousseff sofreu durante a ditadura, para evitar que jornalistas usassem os dados – em plena democracia. O jornal Folha de S.Paulo teve de brigar na Justiça para obtê-los. Esse tipo de comportamento das autoridades arquivísticas, desconfiando a priori de qualquer cidadão que busque saber mais sobre a história do Brasil, acabou levando vários pesquisadores a deixar de apoiar o projeto Memórias Reveladas, que busca justamente trazer esses documentos a público.

Candidata defendendo toda aquela corrupção
Quase impedido de concorrer a governador por conta de sua ficha, o ex-senador Joaquim Roriz decidiu jogar a toalha na campanha indicou sua mulher, Wesllian, para seu lugar. Suas performances nos debates renderam autotunes memoráveis como este aí embaixo.



Boateiros e “fakes” petistas e tucanos fizeram a festa no Twitter.
Robôs (perfis que postam automaticamente) inflavam os tópicos pra dar a ilusão de popularidade. Toda hora tinha uma tag nova. Paralelamente, seres vagamente humanos espalhavam boatos sobre os candidatos por e-mail e no Twitter. A confiar neles, Dilma não poderia entrar nos Estados Unidos por ter matado um coronel americano e Serra venderia o Brasil inteiro. No YouTube, Oscar de efeitos especiais para “Dilma 2012 – o fim está próximo” e Oscar de melhor roteiro adaptado para “Serra Come Todo Mundo”.

FAIXA BÔNUS
Em 15 de dezembro, no apagar das luzes do mandato, o Congresso aprovou a toque de caixa a lei que aumenta em 62% os salários dos parlamentares. Também foi concedido o mesmo aumento ao presidente da República. Com isso, os 513 deputados, 81 senadores e a presidente eleita Dilma Rousseff passarão a ganhar R$ 26.700 mensais, mesmo salário dos 11 ministros do Supremo Tribunal Federal. A coisa não pára por aí. Por tabela, também aumentaram os salários dos deputados estaduais de todos os 27 Estados (cujo teto é 75% do salário dos federais) e dos vereadores de todos os 5.565 municípios brasileiros (cujo salário vai de 20% a 75% dos salários dos deputados estaduais). Você acha que a qualidade do serviço de suas excelências vale um salário desses?
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